Saturday, November 30, 2013

Amazing Grace

As 1001 perguntas que eu tinha para fazer a Deus me acompanharam enquanto eu andava pelas ruas antigas de Genebra. Eu podia ouvi-las gritarem simultaneamente, todas proclamando as minhas dúvidas como uma tentativa inútil de me fazer alcançar respostas intangíveis.
E como uma criança curiosa prestes a abrir a caixa de pandora, passei pelo lago, fotografei o jato de água e cheguei andando até a antiga catedral de St. Peter.
Com os ombros um tanto cansados, repousei a mochila nos bancos da igreja. Eu contemplava aqueles vitrais, que há muito tempo atrás haviam sido parte da atmosfera que inspirou os sermoes reformadores de João Calvino.
Talvez eu esperasse que as figuras naqueles vitrais viessem a me dizer algo importante, mas naquele momento eu estava lá perplexa contemplando o fundo da caixa de pandora completamente vazia. 
Eu ainda me questionava sobre diversos propósitos. Enquanto olhava em volta, via os turistas que fotografavam como se tudo não passasse de mais um museu. Sentei-me e não pude conter algumas lágrimas.
Afinal, era apenas uma infantilidade minha achar que Deus me daria todas as respostas imediatamente e simplesmente porque eu as estava procurando.
Naquele momento pude perceber que a vida não é um grande questionário que você deve preencher completamente antes de morrer. Nem todas as perguntas precisam ter respostas - pelo menos não exatamente quando nós imaginamos que teriam...
Na saída do museu da reforma protestante, comprei um livro para praticar meu francês, e passando pelo parque das águas vivas, desisti de visitar o CERN para me sentar a sombra de uma árvore e simplesmente ler. Parecia ser o lugar perfeito para isso.
Naquela tarde, meu celular tocou. Era um número internacional e desconhecido. 
Fui então surpreendida por uma saudação no mesmo idioma do livro em que eu estava lendo: 
- Hallo?
- Salut mom petit pote!!! Comment ça va?
Aquele sotaque canadense não me deixou dúvidas... 
(continua no próximo post)

Pássaros no jato de água...

St. Peter's Cathedral

Turistando por aí...

Vitrais.

Ruas antigas de Genebra.

Colégio Calvino.

Entre a chuva e o sol...

Lago de Genebra. 

Vista do aeroporto de Genebra.

Entrada do Museu da reforma.

Achei o lugar perfeito para ler.

Porto.

Pássaros interesseiros, só queriam as minhas bolachas.

Monday, November 25, 2013

Atalhos

- Posso me sentar aqui?
- Sim, claro. 
- De onde vocês são? 
- Ele é da Bulgária, eu sou da Carolina do Norte. E você?  
- Eu sou do Brasil.

... E é assim que mochileiros se agrupam.
Cada um de um canto do mundo, todos no mesmo canto de um vagão, que seguia lentamente rumo a Bern.
Em um sacolejar continuo, debruçados nas janelas abertas, contemplávamos aquela paisagem de verão, onde as vaquinhas saboreavam a grama das montanhas circundadas pelos lagos azuis.
Cada um de nós havia percorrido um caminho bastante diferente até aquele momento, mas pelas próximas horas, seguiríamos  juntos pelos mesmos trilhos.
Aquela era a única rota e a nossa motivação em chegar a um destino comum proporcionava um sentimento de união. Talvez, se os caminhos fossem múltiplos, nunca haveríamos nos encontrado. Caso outras rotas existissem, cada um teria escolhido uma que mais facilitasse a sua viagem, dependendo do seu ponto de partida.
Caminhos são parte das decisões, em todas as áreas. Uma vez escolhido o destino, também precisamos escolher a melhor maneira de chegar até ele - e neste ponto reside a dificuldade.
Quando muitos destinos estão expostos a frente, também muitos caminhos podem ser escolhidos. Como saber então por qual deles continuar?
A dúvida muitas vezes se apresenta como uma nuvem escura que passa cobrindo o sol. Enquanto estamos sob a sua sombra, ela nos mantem inertes. Ali estagnados, em frente a alguma encruzilhada  nos caminhos da vida, tentamos imaginar o que viria após a curva em qualquer uma das estradas.
Enquanto muitas considerações podem levar a um certo desnorteamento, é preciso lembrar que a dúvida faz parte de um benefício. Ela é um indicador que diversas possibilidades estão disponíveis.
Há quem diga que todos os caminhos por onde se passa já foram previamente determinados. A possibilidade de escolha de uma rota diferente seria meramente uma ilusão devido a nossa ignorância sobre a continuação de todos os trajetos.
Engano ou realidade, a única forma de sair da sombra é seguindo em frente - não importa muito qual a direção chamada de "frente".
O importante mesmo é prosseguir, entrar no vagão e seguir pelos trilhos.
Outras pessoas também estarão lá rumo a um mesmo destino. Isto será o suficiente.







Friday, November 8, 2013

Primeira parada

But if you close your eyes,
Does it almost feel like
Nothing changed at all?
And if you close your eyes,
Does it almost feel like
You've been here before?

Pela manha cedo, parti de trem em direção ao sul com destino a capital suíça: Zürich. Afinal, após ter passado quase quatro anos na Alemanha, seria lamentável retornar ao Brasil sem ter ao menos provado um chocolate suíço.  
Mas na verdade eu havia escolhido ir a Zürich por conta daquela atmosfera mista de business, moda e religião. Como uma pensadora compulsiva, pensei que seria o lugar ideal para refletir sobre os próximos passos da minha vida profissional. 
E como aquele era um verão abençoado, pude conhecer a cidade inteira simplesmente a pé. Passei os dias degustando especialidades da confeitaria Sprünglin - sem peso na consciência, tem coisa que vale a pena cada caloria. 
Eu estava lá ao lado da St. Peter's Church, sentada balançando as pernas na borda do canal, observando os cisnes. Pensei em quanto os últimos anos haviam sido corridos. As vezes a vida nos empurra de maneira tao brusca que não conseguimos ver a direção na qual estamos seguindo. Nós simplesmente começamos a correr também. Talvez pelo medo de sermos esmagados se tentarmos permanecer contra o fluxo, agimos como que desesperados precisando ir a algum lugar não importa qual. Vamos correndo juntos, uns mais rápido que os outros, mas todos querem chegar primeiro, mesmo sem saber exatamente onde. 
Nessa maratona, muitas vezes quem corre mais rápido, corre sozinho. Para ir na frente, se desvencilha de todos os empecilhos existentes, suas mãos precisam estar livres para que possa seguir rapidamente em direção ao horizonte. 
Ah, o horizonte... Essa linha intangível que se deita ao longe de maneira tao sedutora, nos provoca a utópica sensação que prazeres imensos sempre nos aguardam após ela. 
Talvez o corredor veloz continue em frente de maneira alucinada a perseguir suas miragens, sem olhar para traz. Desapercebidamente, encontre-se então em um local onde os fatores não determinam mais a direção a ser seguida, nem ao menos o impulsionem para que ele precise continuar correndo. Sim, esse lugar existe e se chama liberdade. 





Saturday, November 2, 2013

Fui...

"Lights will guide you home
And ignite your bones "

A calmaria após a tempestade se estendeu pelas semanas seguintes. Isso me permitiu aprender a aproveitar o sol branco brilhante que tarde se poe no verão europeu. Em uma vida sem prazos, chefes ou relatórios a entregar, ir tomar um café com bolo em uma quarta-feira qualquer com as amigas se tornou rotina. Passeios pelo shopping e piscina também. 
Para alguém que havia passado os últimos dez anos da vida sentada na companhia de Gaus, Navier-Stokes e outros físicos famosos dos meus livros de estudo, experimentar uma vida com mais graus de liberdade era um imenso prazer. 
Não demorou muito para que eu começasse a viver na Alemanha de acordo com o fuso-horário brasileiro. Acordar mais tarde, ir correr no parque na hora do almoço, e fazer um ótimo uso das restantes horas do dia (e noite).
Mas o excesso de liberdade e falta de uma direção concreta para onde seguir logo deram lugar a uma sutil melancolia. Esta arranjou lugar para se fixar bem junto as minhas dúvidas já existentes e fez aumentar consideravelmente as incertezas que estavam mascaradas pelo entretenimento do momento presente. 
1001 perguntas eu tinha para fazer para Deus e repetia as minhas preces com mais intensidade a cada manhã.  
Os efeitos colaterais de uma vida mais intensa, os meus questionamentos e logo uma gripe daquelas, foi o suficiente para me segurar na cama por uma semana. 
O nariz escorre, a garganta dói e o som no máximo. Sim, pois meu prezado companheiro de republica não se importa que alguém esteja doente em casa e decide dar uma festa. Na manhã seguinte, as garrafas vazias e pedaços de frutas se espalhavam pelo apartamento.
Este foi um daqueles momentos da vida, em que as circunstancias nos proporcionam uma certa quantidade de raiva, mas uma raiva boa, que nos da forças para levantar de uma situação irritantemente provisória.
Vesti um tênis confortável, coloquei a mochila nas costas, e fui de trem em busca das minhas respostas. 
Na pressa, saí correndo e acabei esquecendo a gripe em alguma esquina do bairro, porque ela misteriosamente não me acompanhou até a estacão... 

Wednesday, October 30, 2013

Continuando...

"Lately I been, I been losing sleep
Dreaming about the things that we could be"


Os dias se passavam de maneira confusa enquanto eu tentava resolver alguns assuntos pendentes...
A minha tese deveria ser impressa na Polônia por motivos de redução de custos. Porém, alguns contratempos ocorridos apenas contribuíram para a dilatação dos prazos.
Na mesma época também recebi o parecer sobre um paper que tentava publicar - veio juntamente com uma pequena lista de 49 correções solicitadas por um dos revisores.
Mas os meus horários eram absolutamente flexíveis naquela época, o que me permitiu ajudar a tomar conta do filho de uma amiga enquanto ela tirava sua carteira de motorista.
O pequenino adormecia no meu colo na sala do apartamento. Eu podia sentir sua respiração profunda enquanto era contaminada pela paz que é o sono de uma criança.
Então lentamente começou a me incomodar aquela mesma série de questões impertinentes, do tipo que costuma cutucar a mente nos momentos em que estamos mais calmos.
Eu estava  me convencendo que, naquele momento, todos os parâmetros de controle da vida não estavam em minhas mãos - e ainda bem por isso!

Saturday, September 21, 2013

A segunda metade da vida

No corredor se amontoavam caixas e sacolas cheias de roupas e acessórios separados para doação. Já que deveria me mudar logo, era melhor ir me desfazendo daquilo que não era estritamente necessário. Quem me conhece sabe, que carrego comigo apenas aquilo que preciso - e não preciso de muita coisa para ser feliz...
Blusas de inverno, casacos antigos, botas... Foram todos enviados a famílias necessitadas.
Havia começado a separar aquelas coisas todas na mesma semana que cheguei do Brasil. E como pretendia voltar para lá antes que o inverno chegasse por aqui, o excesso de bagagem foi poupado.
Somente imigrantes podem entender a dificuldade que se sente nos primeiros dias após o retorno de sua pátria - e aquela vontade louca de voltar para trás.
Nesses momentos sou eternamente grata a minha família brasileira na Alemanha. Os meus amigos queridos que me acolheram com um abraco, arroz, feijão e rede Globo passando na teve da sala de visitas. Sim, sou abençoada. Tenho o melhor dos dois mundos e o calor dessas amizades incomparáveis.

As vezes acontece de anjos não terem asas. A esses chamamos de amigos...



Wednesday, September 4, 2013

Back again

Faltava cerca de uma hora para o avião decolar e nós ainda estávamos no quarto do hotel tentando fechar a minha mala. Alguns pares de sapato e bombons sonho de valsa precisaram ficar para fora.
A emoção sempre é muito grande na fila do check-in: 
- Mãe, não consigo ir! - Disse eu já sentada no chão do aeroporto. 
- Calma, filha, vai dar tudo certo, logo nos veremos novamente. - Disse ela me acalmando. 
E então eu parti mais uma vez, levando comigo aquele último abraco dos meus pais. Porém deixando para traz, além de metade do meu coração, muitas roupas, casacos de inverno, livros de alemão, cartões de crédito, carteira de motorista... Um dia ainda vou aprender a organizar minhas malas com a devida antecedência. 
Após muitas horas de viagem - eu devo ter chorado durante a metade delas - eu estava de volta a Alemanha novamente. Arrastei a mala pesada para cima da escadaria de madeira do prédio antigo novamente, jurando para mim mesma que esta seria a última vez.
Mas 'apart from that', a vida é um processo de voltas. O regresso é inevitável em qualquer direção. Em algumas dessas voltas somos acompanhados, em outras não. As vezes nossas companhias seguem outras direções, mas certamente nos encontramos em algum retorno. 
Aceitar que tudo isto faz parte de um plano maior cuidadosamente pré-determinado é o que me conforta.   

Meu lugar para pensar: o lago no centro do Herrengarten, perto de casa. 

Friday, August 30, 2013

Embora

- Lá (no exterior) é tudo bom, mas é ruim. Aqui (no Brasil) mesmo que esteja tudo ruim, ainda é bom. 
Isso disse o ilustre desconhecido sentado a minha frente com quem eu conversei por algumas horas.
É uma ilusão provocada pelo ambiente de cidade pequena, pensarmos que conhecemos todas as pessoas apenas por te-las visto na rua, ou escutado alguns fatos sobre a elas. A tecnologia ainda veio e piorou tudo. Muita gente passou a acreditar que o perfil no Facebook é uma reflexo exato de quem por ele se representa, e sendo assim, se sentem livres para tirar conclusões baseadas em frases aleatórias ou fotos pré-selecionadas. Por essas e outras, eu ainda prefiro conhecer as pessoas da maneira antiga...
A frase dita pelo ilustre então conhecido conseguiu marcar a minha memória de tal forma que me incomodou no dia seguinte e no outro também.
Somado a isto, estavam todas as recordações daquelas sete semanas em casa com a família, o passado se ajuntando com o presente para determinar o futuro - que na verdade já estava determinado por Deus desde muito tempo...
Mas de qualquer forma, eu precisava pegar o avião naquele final de semana, para regressar a Alemanha e resolver algumas questões de documentação ainda pendentes.

Praia Catarina, em Ilha Solteira - SP.

Tuesday, August 27, 2013

Baby Tea

Mamadeiras cheias de amêndoas,
tubinhos de jujubas,
brigadeiros de nozes,
fraldas e mais fraldas.

Era o chá de bebe da uma amiga antiga, que também foi a ocasião perfeita para re-encontrar muitos outros amigos antigos de uma só vez. 
Tudo em rosa e marrom. 
Enquanto eu morava na Europa, muitos dos meus amigos se casaram. Outros, tiveram filhos que até então eu não conhecia. Crianças lindas que cresceram e se tornaram parecidos com os pais. 
Rosas brancas nos vasos.
Era uma alegria poder ver tantas pessoas tao queridas novamente. Meu coração se alegrava em ver que estavam todos bem e guardados por Deus.
Paes de mel com chocolate. 
Continuo acreditando que as pessoas do nosso passado é que nos ajudam a entender quem realmente somos no presente. São eles com quem dividimos a nossa história ou pelo menos parte dela. Quanto mais velhos ficamos, mais precisamos dessas pessoas. Funciona como um certo tipo de identidade. 
Bolo de coco embrulhadinho. 
Eu estava de volta, imersa na cultura brasileira novamente. Era um sentimento de retorno. Um prazer poder participar daqueles momentos que antes eu só veria por fotos no Facebook. 
Mousse de maracujá. 
Ao mesmo tempo, o sentimento era de ser um peixe fora d'água dentro de seu próprio aquário cheio. 
Parecia que a minha vida havia andado alguns quilômetros para frente enquanto eu havia corrido em outra direção. 
Durante as conversas, algumas palavras e expressões me escapavam ao entendimento. 
De igual maneira, alguns fatos demoravam para fazer sentido. 
Foi então que pude compreender que toda cultura evolui com o passar do tempo. A mudança é certa e ocorre com todos. O Brasil que eu havia deixado era diferente do Brasil que eu encontrava naquele momento. Ainda sim, era o meu aquário. 

Sunday, August 25, 2013

No mercado...

- A Senhora se esqueceu de pesar as bananas. 
- Pesar? 
- Tem que passar na balança antes de vir para o caixa. 

Sim, eu havia me esquecido que, naquele supermercado, os fregueses tem que entrar em uma fila para pesar os vegetais e depois em outra para pagar por eles. Por anos sempre foi assim e nunca ninguém havia reclamado.
Também é de se surpreender que as pessoas não costumem reclamar dos preços exorbitantes de alguns artigos supérfluos. Pelo contrário, os adquirem como se fossem produtos de luxo!
E lá estava eu, fazendo turismo de supermercado, tirando fotos das prateleiras...





"Naturalmente" coloridas...
Aos meus olhos, parece que quanto maior o nível de desigualdade social, maior é o desejo de ostentação.
Voltar ao Brasil significaria ter que se acostumar com tudo isso novamente?
Significaria se conformar com uma realidade que foge da lógica quando observada através de um outro contexto?

Thursday, August 22, 2013

Riquezas

"Only hate the road when you're missing home"
(Passenger)

Entramos de braços dados na pequena igreja presbiteriana de São Manuel, minha avó e eu. Nos sentamos no segundo banco da fileira. Antes do culto começar, ela acariciou minha mão e disse:
- Vejo que você ainda usa o anel que te dei quando você era uma menina. Guarde-o bem, é um anel valioso.
Na casa da vó: churrasco, frango defumado, bacalhoada... A marca registrada da família é o exagero de comida.
Mais valioso que o anel, era para mim aquele momento.
Família é a  maior riqueza que alguém pode ter. São as pessoas que nos moldaram ao longo dos anos, que nos aguentaram nas piores fases, são os amigos que Deus escolheu para carregarmos por toda vida.
Pude então perceber o quão difícil era ficar longe dessa estrutura e o quanto isso me fazia falta...

Jogando UNO com os irmãos... Quem nunca? 

Wednesday, August 21, 2013

Be still...

Precisei desviar de um ciclista que vinha lentamente pela contra-mão na avenida. O senhor, de aparência bastante humilde, não aparentava se quer perceber que conduzia seu veículo de maneira inadequada. 
- Hallo Opa! Das kann nicht sein! - gritei eu pela janela do carro, sem perceber que falava no idioma errado. 
Os anos fora do país me tornaram uma pessoa ainda mais crítica do que antes. O meu nervosismo era aparente também na fila do supermercado e em outros estabelecimentos comerciais. As pessoas pareciam não se incomodar em fazer os outros perderem tempo. Tal fato não fazia muito sentido para mim, que estava de longas férias. Mas de igual maneira, como se eu fosse a mais ocupada das bussiness women, uma inquietação começou a tomar conta do meu coração e um sentimento de necessidade de fuga começava a surgir. "Preciso ir embora daqui" - era o que eu pensava. 
No final de semana, fui a um lugar que já há algum tempo não visitava com muita frequência: a igreja. Na Alemanha nós temos um pequeno grupo brasileiro de cristãos que se reúne todas as semanas e aos domingos eu costumava frequentar uma igreja alemã. Mas nada se compara a voltar a sua comunidade local - rever as pessoas tão queridas, notar que as crianças cresceram, receber um abraço dos idosos... E esse foi o lugar que me acalmou. Era como se Deus me dissesse: se aquiete, se aquiete... 

Encontrar as mesmas pessoas de 10 anos atras, não tem preço...

Monday, August 19, 2013

Welcome

Estiquei o meu braço até conseguir alcançar aquela caixa velha no fundo do guarda-roupas. Sentada no chão, fui então desenterrando os tesouros que estavam lá dentro. Fotos, diários antigos, e outras coisas das minhas coisas de menina.
O cheiro de alho com cebola refogando vinha da cozinha me lembrando que um almoço preparado pela mamãe seria saboreado em breve.
Era como ser criança novamente. Assistir televisão, conversar com a vovó e fazer outras coisas que eu antes havia me esquecido. Como os últimos anos da minha vida haviam sido bastante corridos, ter tempo para o tempo era algo que eu desconhecia e isso logo começou a me incomodar.
Porém em poucos dias aquelas questões básicas da vida adulta vieram me atrapalhar novamente: Emprego? Dinheiro? Carreira? Elas martelavam minha mente incessantemente numa condição também conhecida como "stress". Sim, eu precisava mesmo descansar e estava no lugar certo para isso.
Assim como existe um tempo certo para cada coisa, também existe um tempo de não fazer muita coisa.
Fácil falar. Difícil aceitar. Especialmente no meu caso.
Mas eu havia separado aquelas sete semanas para ficar na casa dos meus pais e poder então me decidir se iria me estabelecer no Brasil ou na Alemanha.
Era o meu tempo de aquietar.

Friday, August 16, 2013

Home sweet home

Apesar de já ser final de maio, a primavera havia se atrasado naquele ano. O brilho fraco do sol e os poucos graus Célcios daquela tarde me faziam esquecer que algum dia haveria um verão.
A campainha soou com a chegada de uma amiga quem me levaria ao aeroporto. Nós duas arrastamos desajeitadamente as malas pesadas pela escadaria de madeira daquele prédio antigo e partimos. Ou melhor, eu parti. Estava indo para uma temporada na casa de meus pais no Brasil, após o termino do doutorado aqui na Alemanha.
Um avião, outro avião, mais outro e após 32 horas de viagem eu já não conseguia me lembrar porque havia trazido comigo tantos casacos. O outono em Ilha Solteira não parecia estar ainda muito motivado.
Voltar ao meu lugar de origem depois de um longo tempo fora dele foi uma experiencia inusitada. Foi como voltar a Londres após ter passado anos em Nárnia e se deparar com o mundo real antes esquecido. Isto tudo foi também como uma surpresa nostálgica, a redescoberta do velho, que se tornava novo mais uma vez. Juntamente, vem então a parte mais chocante dessa experiencia: o reencontro comigo mesma.
- Ah, eu era assim? Eu falava dessa forma? Eu usava essas roupas? Era isso que eu comia?
A "velha Débora" estava lá e eu nem ao menos me lembrava dela. Neste instante, o momento presente me oferecia a oportunidade de simplesmente esquecer o que havia se passado nos últimos anos fora do país. Mas essa oferta barata eu não poderia aceitar. Não por completo, mas pelo menos uma parcela dela deveria ser incorporada para evitar possíveis conflitos. Então o que se segue pelas semanas seguintes é consequência de um modelo híbrido do meu próprio eu. A mistura havia sido feita e mais uma vez o processo era irreversível.
Por mais estranho que pareca, tudo é apenas parte de um curso normal que se repete em menor intensidade todos os dias. Mudar, faz parte de viver.

Por-do-sol no rio Paraná, em Ilha Solteira-SP.